NOTÍCIAS
Humanização da Justiça penal marca etapa de conclusão de especialização na Enfam
23 DE AGOSTO DE 2022
Com mais de 40 magistrados e magistradas de todo país reunidos no auditório da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), em Brasília, teve início, nessa segunda-feira (22/8), a última etapa da especialização “Jurisdição Penal Contemporânea e Sistema Prisional”, realizada em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As diversas intervenções durante o Seminário de Encerramento destacaram a necessidade de atualizar a prática jurisdicional no campo penal e a responsabilidade da magistratura no aprimoramento do sistema prisional no país.
Essa foi a primeira especialização oferecida pela Enfam com o apoio do programa Fazendo Justiça. A parceria entre o CNJ e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para incidir em desafios no campo da privação de liberdade apoiou na elaboração do conteúdo e da programação do curso. Uma segunda edição já está sendo preparada, assim como outras atividades conjuntas.
O seminário segue até esta quarta-feira (24/8), com mesas de debate e a apresentação dos projetos de conclusão de magistrados e magistradas, além de estudantes convidados. “Quero deixar uma mensagem para as pessoas que hoje concluem o curso de especialização: exerçam a jurisdição penal não apenas com as mãos e a cabeça, mas também com o coração e a capacidade de se indignar frente a esse estado de coisas inconstitucional que é o sistema prisional brasileiro”, afirmou o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e coordenador-geral da Enfam, Og Fernandes. Segundo o ministro, é preciso sempre lembrar que as pessoas privadas de liberdade são portadoras de direitos.
Para o ministro do STJ e coordenador-geral do curso de especialização, Rogério Schietti Cruz, o sistema prisional ainda adota práticas antiquadas e até medievais, defendendo a maior atenção às penas alternativas. “Como se a sociedade clamasse pela prisão. A prisão passa a ser a única satisfação social, como uma catarse social, quando podemos ter as penas alternativas como as principais”, apontou. “Fico muito feliz que, como juízes, percebemos a necessidade de tratar tanto do ingresso como da saída dos presos. Nesse curso, discutimos o cuidado que devemos ter para não colocar mais pessoas no sistema prisional.”
O juiz coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF) do CNJ e coordenador institucional do curso, Luís Geraldo Lanfredi, reforçou essa posição. “Não tem sentido a magistratura especializada em direito penal se não for para garantir direitos e colocar a pessoa no centro.” Para Lanfredi, o curso foi inovador “ao trazer aos nossos colegas a moderna e contemporânea visão do direito penal e apontar, mais do que teoria, a necessidade de implementação desses conceitos”.
Formação necessária
O evento foi conduzido pelo ministro do STJ Herman Benjamin, que comentou sobre a necessidade de realizar não apenas um segundo curso de especialização, mas tornar a especialização parte da grade frequente da Enfam. “Há muito o que ser feito nesse campo, e é preciso ter magistradas e magistrados capacitados”, afirmou. Segundo o Benjamin, é raro os juízes terem atualmente contato direito com casos de tortura, mas é comum o que ele chama de “tortura terceirizada”. “O que é a superlotação das celas? O que é a condição de escravidão por dívida que leva os presos para as organizações criminosas? E nós permitimos isso.”
A mesa de abertura contou ainda com a participação de dois estudantes da primeira turma do curso de especialização. O desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Siro Darlan, afirmou que eles saem mais preparados para cumprir a Constituição Federal e as leis brasileiras. “Juramento que vem sendo esquecido por parte da magistratura, e o resultado está estampado no estado do sistema prisional, em flagrante estado de inconstitucionalidade.”
A juíza do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) Ana Cláudia Veloso Magalhães, formanda no curso, conta ter aprendido com os professores que “magistradas e magistrados não podem mais tolerar que nas audiências de custódia e no sistema prisional existam corpos sangrentos, presos ao relento, torturas e maus tratos negligenciados”.
A programação segue no auditório da Enfam nesta terça (23) e quarta-feira (24/8) com a apresentação dos trabalhos de alunos e alunas. Os temas vão desde as medidas de proteção social nas audiências de custódia até discussões sobre regulação de vagas, mulheres no sistema prisional, políticas de reinserção social e Justiça restaurativa.
Texto: Pedro Malavolta
Edição: Nataly Costa e Débora Zampier
Agência CNJ de Notícias
The post Humanização da Justiça penal marca etapa de conclusão de especialização na Enfam appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
Informação falsa deturpa para levantar suspeitas sobre o processo eleitoral
25 de julho de 2022
Nesta semana, um conteúdo enganoso publicado por um site de notícias tentou levantar suspeitas sobre a função de...
Portal CNJ
Judiciário de TO fortalece prevenção de conflitos no Sistema de Justiça
25 de julho de 2022
Em Tocantins, a data de 22 de julho é oficialmente Dia Estadual da Paz e da Concórdia (Lei n. 3.364/2018). A...
Portal CNJ
Audiência pública em MT debate inclusão digital para garantir acesso à Justiça
25 de julho de 2022
A inclusão digital ainda não é uma realidade para 25% da população brasileira, o que representa um contingente...
Portal CNJ
Processos e julgamentos crescem na Justiça do Trabalho da 12ª Região
25 de julho de 2022
O Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (TRT12) recebeu 46,8 mil novas ações e recursos no primeiro...
Portal CNJ
Ouvidora da Mulher debate combate à violência no Judiciário do Maranhão
25 de julho de 2022
Para debater a orientação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a criação das ouvidorias e outras ações...